Canteiro dos girassóis

Desvelando o sol poético.

Textos



A CASA ONDE NASCI..
Guida Linhares

Ah! Velha casa, quanta saudade!
Localizada no Bairro da Encruzilhada,
na Avenida Conselheiro Nébias, 272.
Foi lá que cheguei ao mundo.
Um casarão antigo de porão alto
que foi a delícia da minha infância.
Junto com meus pais, tios e avós
eu corria pelo quintal atrás das borboletas
e via meu "nono" alimentar os sabiás.
As árvores recheadas de frutas
faziam a doçura das horas que ali passávamos
goiabas, abios, caquis, sapotís, figos,
bergamotas, pitangas araçás e carambolas,
peludas e fruta do conde,
bananas em pencas
limões galegos e laranjas peras
forravam o chão quando maduras
e muitas vezes, usávamos uma vara comprida
para balançar alguma fruta que vistosa
nos atraia ainda no pé.
Havia também o galinheiro
onde minhas amigas todas tinham nome
e eu corria atrás delas
porque não tinha ainda irmãos
nem amiguinhas
mas também as alimentava
pondo o milho nas mãos
e elas vinham todas alegres
me fazer companhia
menos o galo que era meio arisco.
E foi um tempo tão delicioso
da minha vida
que relembro com lágrimas
meus avós sentados na varanda
a me esperar do colégio
- Quantos 100 tirou a minha neta?
Meu vô perguntava me abraçando
e eu sentava em seu colo
e me sentia a princesinha mais amada.
Quando meu vô partiu, eu estava na escola
e quando vim chegando vi uma longa cortina preta
na porta principal da sala
que dava para o comprido corredor
e não entendi o porquê.
Naquele tempo fazia-se o velório em casa,
e quando me contaram nem acreditei,
que ali naquele caixão repousava
o meu primeiro grande amor,
meu avô amado, que me contava estórias
e cantava as belas áreas em italiano,
e juntos ouvíamos a estação
no velho radio capela.
Eu estava com 10 anos de idade,
mas se fechar meus olhos,
revejo todo este tempo passado,
como se fosse um presente revisitado.
E nele me refugio quando quero
fugir dos tempos atuais e voltar a sentir
todas as alegrias e dores
daquela época tão marcante.
E um dia quando nos reencontrarmos
em alguma estrela luzente,
direi a meus avós queridos que tanta foi a saudade
que o passado se tornou presente
e os abraçarei com carinho
e da estrela sairão faíscas de amor contente.

Santos/SP/Brasil
21/06/06


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Guida Linhares
Enviado por Guida Linhares em 21/06/2006
Alterado em 13/05/2010


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