Canteiro dos girassóis

Desvelando o sol poético.

Textos

Vento de outubro / Vento / Viento
VENTO DE OUTUBRO

Guida Linhares



Ventos fortes sopraram meu coração,

quando outubro chegou triunfante.

Foram-se todas as minhas esperanças,

acalentadas num doce porvir amanhado

com regas diárias, com quase certezas.

Madrugava em muitas noites tagarelas,

uma sublime sensação de ser amada,

desfeita pelos ventos alísios da temporada.

- Não estou te abandonando e nem

tampouco te desprezando, soava a vóz amada...

Contudo um vendaval tomou conta,

de tantas esperanças desfolhadas,

uma a uma, em longos dias de invernada,

e ao final, não restou mais nada...

Porém  dos retalhos do coração partido,

fiz uma rabiola comprida e correndo pelas ruas,

encontrei uma pipa mais despedaçada do que eu.

Colamos nossos restos e nos demos a mão;

descartamos todos os lenços,

ficando livres e soltos ao vento.

Santos/SP/Brasil, 10/12/06

Poema inspirado nos versos da poetisa predileta Cecília Meireles, com tradução para o espanhol do amigo poeta
Juan Martín


VENTO

Cecília Meireles



Passaram os ventos de agosto, levando tudo.

As árvores humilhadas bateram, bateram com os ramos no chão.

Voaram telhados, voaram andaimes, voaram coisas imensas:

os ninhos que os homens não viram nos galhos,

e uma esperança que ninguém viu, num coração.



Passaram os ventos de agosto, terríveis, por dentro da noite.

Em todos os sonos pisou, quebrando-os, o seu tropel.

Mas, sobre a paisagem cansada da aventura excessiva – sem forma e sem eco,

o sol encontrou às crianças procurando outra vez o vento

para soltarem papagaios de papel.



***



VIENTO



Cecília Meireles

(Trad.: J. Martín)



Pasaron los vientos de agosto, arrastrándolo todo.

Los árboles humillados se agitaron, se agitaron con sus ramas por el suelo.

Volaron tejados, volaron andamios, volaron cosas inmensas:

los nidos que los hombres no vieron en las ramas,

y una esperanza que nadie vio brotar de un corazón.



Pasaron los vientos de agosto, terribles, entre la noche.

Todos los sueños holló, quebrándolos, su tropel.

Mas, sobre el paisaje cansado por el lance brutal - sin forma y sin eco -,

el Sol encontró a los niños buscando de nuevo al viento

para volar cometas de papel.



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Guida Linhares
Enviado por Guida Linhares em 11/12/2006


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