Canteiro dos girassóis

Desvelando o sol poético.

Textos

Piedade! Ainda tens nome?
Piedade! Ainda tens nome?

Guida Linhares



Nestes tempos modernos

há tantos valores mudados.

A palavra do homem

que valia os fios do bigode,

hoje não vale mais nada.



O respeito mudou de casa,

e se perdeu pelos caminhos.

A educação chora à míngua,

por estar sendo descarte, como

um instrumento em desafino.



Tantos sentimentos humanos

que eram transmitidos por gerações,

passaram a ter um valor relativo.

E o ser humano cada vez mais

envolvido em cruéis teias ilusórias.



E vão engrossando as fileiras

dos pobres famintos esquecidos.

Dos poderosos nada recebem,

apenas desprezo e abandono,

Piedade! Ainda tens nome?



Se ainda tens, olha pelos desvalidos,

pelas crianças infelizes e maltratadas,

pelos idosos esquecidos nos asilos,

pelo doente mental despejado de casa,

pelas criaturas que vagam neste mundo.



Todas tem direito à saúde e nutrição,

educação e trabalho, para um viver digno.

Todas tem direito a sonhar e ser feliz;

porém a consciência de muita gente

desconhece o exato valor da Piedade.



Santos/SP

21/01/07

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Participação no terceto com os queridos amigos poetas Eugénio de Sá e Maria Petronilho.

***


Onde estás, Piedade?

(Eugénio de Sá)


Neste Natal do milénio terceiro

Avança a passos largos a ciência

Mas o estigma da fome p'lo mundo inteiro

Marca qual ferro em brasa a consciência


E não se pense que estão ilibados

Os que não se mexeram nos seus tronos

Perante a miséria dos que estão calados

Porque serão julgados os seus abandonos


Se de todos os mais bem formados

A voz subisse em clamor p’los que sofrem

Quem manda tinha que ver mais vergados

Outros interesses que sempre mais podem


Ah, piedade, por onde tens andado

Que já não sei de ti há tanto tempo

Mostra-te aos homens já que te foi dado

Seres do homem virtude e mais alento


Portugal

Dezembro

2006

*****

A Piedade passou por aqui

(Maria Petronilho)

A piedade passou de manto
surrado velho e cinzento
arrojando p'lo meu canto
Há tanta alma ferida
faminta de mão amiga
quanta barriga dorida
quanta fome escondida
E calado sofrimento
falta de esperança e alento
tanto choro sufocado
há tanto pobre dobrado
sobre si neste momento
frio... que frio dentro
deste mundo desumano!
Por convenção muda o ano
mas a Piedade, quando?

(com gratidão porque senão... nem a Piedade teria aqui passado!)

Portugal
1/1/2007

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Guida Linhares
Enviado por Guida Linhares em 09/03/2007


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