Lágrimas ocultas
Com carinho, gloso o quarto mote do poema
"Lágrimas ocultas" de Florbela Espanca
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim.
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E as lágrimas que choro, branca e calma,
escorrem pela face enrugada do tempo.
São como lembranças do cruel contratempo,
que marca o que hoje sou, ressequida palma!
Só eu sei o gosto amargo que elas provocam!
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Sorrateiramente chegam da ilusão que espalma,
sentimentos afagados que do amor evocam.
Na dor e amargura da cruel despedida,
brotam como líquidos cristais lapidados assim.
Ninguém as vê cair dentro de mim.
São como resignadas gotas da alma rompida.
Santos/SP
23/09/07
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Lágrimas ocultas
Florbela Espanca
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim.
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Guida Linhares
Enviado por Guida Linhares em 23/09/2007