Não mais aqui....
2)
NÃO MAIS AQUI...
Guida Linhares
Meus filhos amados,
que bom estarmos sempre juntos,
ao redor da mesa farta,
de risos e alegrias partilhadas,
ainda que na cabeceira da mesa,
haja um vazio voluntário.
Temos que compreender,
que cada pessoa é singular,
e mesmo amando muito,
define suas escolhas,
vai viver seus sonhos,
ainda que signifique estar distante.
Talvez eu devesse ter ido,
mas como abandonar um universo,
para viver o sonho dele,
mesmo depois de partilhamos
uma jornada de vida.
Um difícil sacrifício desejado.
Como viver longe da prole,
não curtir a avózice
estar distante de toda a família,
mãe, irmãos, sobrinhos,
amigos, conhecidos,
e o chão onde nasci, areia e mar.
Difícil decisão que me custou,
noites insones, tristeza e guerra,
interna e externa tentando equacionar,
um problema que requeria
um desprendimento maior,
do que o meu coração suportaria.
E veio a solução proposta
e num ímpeto acatei teu pedido,
a liberdade de romper os vínculos,
colocares o pé na estrada e mudar,
para o lugar onde nasceste,
mas que nada tinha a ver comigo.
Estupefatos os filhos não acreditavam,
que a separação estava traçada
e que os nossos caminhos seguiriam
paralelos pelo resto da estrada.
Mas a vida é assim mesmo,
cheia de surpresas na caminhada.
Porisso hoje, ao nos reunirmos,
conservamos a cabeceira vazia.
Talves quem sabe, voce até gostaria,
de estar entre nós, erguendo o copo,
iniciando o brinde, lançando as palavras
de gratidão pelo momento sublime.
Contudo na tua decisão de partida,
querias voltar a ser o que eras antes,
e achavas que felicidade estaria lá longe.
Então, que tu encontres a ti mesmo,
e quando te sentires solitário,
lembra da cadeira a tua espera.
Não mais aqui, em presença,
teu espírito vaga por entre nós,
quando nos momentos de lembranças,
ainda escutamos a tua vóz.
A pior morte é a que se faz em vida,
quando se matam muitos sonhos,
para viver apenas um.
Santos/SP - 17/11/07
*****************
Participação em dueto com o amigo poeta José Geraldo Martinez
1)
AQUI, AINDA...
José Geraldo Martinez
Meus filhos, quero a todos sentados!
É dia de falarmos da vida,
De flores, de lágrimas...
Do nosso tempo passado!
Antes, porém, quero o abraço
de cada um,
Senti-los um pouco em meu peito!
Quero hoje um dia incomum,
Observá-los direito!
Difícil essa reunião com todos!
Cada qual seguiu seu caminho...
Fiquei com a terrível
Sensação de estar em meu ninho sozinho!
Antes, porém...
Tenham um pouco de paciência!
Talvez pelas suas ausências,
Quero de todos um cheirinho!
Eu os amo muito!
Tanto que daria a qualquer um a minha
vida...
Quiçá pudesse carregar as suas dores,
Cicatrarizar de todos as feridas!
Não posso!
Apenas pedir a Deus que os proteja!
Que tenham amor no coração,
Uma qualquer religião,
Que assim seja !
Não sabem da alegria que sinto,
Pelas tardes quase mortas,
Quando os vejo voltando,
Entrando por esta porta !
Cada qual de seu trabalho,
vindo me visitar.
A casa ganha barulhenta alegria,
com os netinhos correndo me abraçar!
Quando eu partir, que seja assim:
Esta família sempre se encontrando...
Façam de conta que ainda estou aqui,
nesta casa, esperando-os !
Aqui ainda fazemos nossas orações,
antes do almoço e jantar...
Aqui ainda temos por costume,
de dobrarmos os joelhos antes de nos deitar!
Nesta casa que os receberam pequeninos,
Ainda existe, pelo quintal,
O grande cipreste altaneiro,
Que a gente enfeita em todo Natal!
A cama de todos ainda existe...
Alguns brinquedos estão conservados!
O balanço que eu mesmo fiz com pneu,
Resiste ao fundo dependurado!
Nesta casa,
O tempo parece correr mais devagar!
Em alguns cantos ainda existem marcas
de mãozinhas,
Que o tempo fez questão de preservar!
Nesta casa,
Existem algumas bonequinhas...
Mamãe ainda as penteia,
Lembrando de suas menininhas!
Aqui ainda se vai à missa do galo,
Tão comum em nossa convivência...
Aos domingos, na igreja, ainda faço
questão...
De marcar a minha presença !
Daí, quero a todos sentados!
É dia de falarmos das flores,
das lágrimas...
Do nosso tempo passado!
Para que não percamos o costume
De com todos estarmos juntados!
Ainda que um dia não esteja e me
Torne uma estrela que brilha...
Nesta casa continuaremos sendo
um pelo outro!
Que pese o mundo hostil lá fora,
A violência que nos assola...
Mantivemos a família !
É o maior bem que podemos oferecer
As nossas futuras gerações.
Nesta casa haverão de correr e cobri-la
de canções!
Ainda que estejamos nos álbuns
Amarelados em doces lembranças ...
Juntos na eternidade um dia,
Que alegria!
Vivemos uma família...
Deixamos nossa maior herança!
O mais infeliz dos homens é aquele que perdeu a sua
maior herança, a família! O mais miserável deles, é aquele
que nunca a teve"
( Martinez)
Guida Linhares
Enviado por Guida Linhares em 03/01/2008