AMOR VIRTUAL*
Guida Linhares
Dois sonhadores: Luís e Sandra em busca de um amor verdadeiro, navegaram pelas redes virtuais e sites de namoro, na esperança de encontrar alguém para amarem e serem amados.
Até que finalmente, pela telinha mágica se conheceram, trocaram telefones e o WhatsApp passou a ser acionado com muito diálogo e troca de confidencias.
Até mesmo rolou momentos picantes, através do recurso do áudio, porém sem nunca terem usado a câmera, somente fotos de rosto.
O tempo foi passando, a paixão aumentando e o desejo de realização real se tornou forte em ambos, porém sempre acontecia algo que impedia o desejado encontro.
Ambos juravam amor eterno, e possuíam a certeza de que, após o tão almejado encontro, viveriam juntos e felizes para sempre.
Cupido que não era bobo, já sabia de antemão que talvez ambos pudessem se decepcionar, mas continuou firme segurando a flecha até que....o real encontro aconteceu num agradável parque da região onde Sandra morava e Luís enfrentaria 300 kms de estrada até chegar no local.
Ansioso, dirigindo, rogava a Deus que tudo desse certo e o seu ansiado sonho se realizasse.
Sandra se preparou toda bonita. Foi ao salão de beleza, esmaltou as unhas, fez escova, depilou-se, colocou o mais lindo vestido e as bijuterias prediletas e caprichou no perfume.
Morava defronte à praça e ficou na janela, esperando o príncipe encantado, que traria uma rosa vermelha para identificar-se.
Luís também cortou o cabelo, barbeou-se, comprou camisa nova e até botou um sapato combinando com a cor da calça, usou aquele perfume guardado faz tempo, olhou-se no espelho e perguntou a si mesmo:
- Será que vai dar tudo certo? Ela vai continuar gostando de mim, mesmo assim?
Preocupado com o inédito, Cupido afrouxou o arco, esperando pelo desenlace.
Eis que tudo aconteceu num átimo de tempo e da janela Sandra viu a aproximação de Luís, com a rosa vermelha, depois de estacionar o carro.
E Luís viu Sandra na janela, bela e muito séria, segurando no beiral, provavelmente não acreditando no que estava vendo: um anão que nunca teve a coragem de revelar seu estado físico, enrolando durante mais de um ano, e fazendo acreditar num amor verdadeiro.
Luís ficou estático até a janela se fechar.
Ela não desceu e imediatamente bloqueou Luís no WhatsApp e demais redes sociais, enquanto chorava copiosamente pelo fatal desenlace. Até Cupido chorou por mais um trágico amor virtual.
Nem preciso dizer que Luís sentado no banco, pegou o celular e viu que seu amor virtual foi pro espaço sideral.
Cabisbaixo, jogou a rosa no jardim e começou a chorar.
De repente, alguém tocou no seu braço e uma anãzinha devolveu a rosa com as seguintes palavras:
- Não sei o que houve, mas imagino uma desilusão, pois nós somos diferentes e muitas vezes as pessoas não enxergam nossos melhores sentimentos, mas sim nossa forma física.
Somos seres que podemos amar e sermos amados com intensidade.
Porisso não chore mais! Que tal um café para esquentar nossos corações?
Cupido pegou na maior flecha, retesou o arco e sorrindo contente, mirou o alvo e atirou feliz, por acender mais uma chama de amor, sem precisar da virtualidade.
Mas a chorosa Sandra como ficou? Depois de deletar o pretenso amado, olhou-se no espelho e disse pra si mesma:
- Aproveita a produção e vá ao baile que começa daqui a pouco!
E foi o que ela fez, depois de passar mais batom e perfume. Então no baile, foi convidada a dançar por um príncipe encantador, que ao final a convidou para tomar uma taça de vinho.
E Cupido preparou a flechada, satisfeito com as aventuras de mais um casal, que fora da virtualidade, conseguiu realizar os seus mais ansiados objetivos, embora de maneira inusitada no mundo real.
Santos/SP/Brasil
30/11/24
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* Leitura sugerida pela Oficina Literária da Casa das Culturas, pelo Mestre Flávio Viegas Amoreira > Amor verdadeiro de
Isaac Asimov.
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